quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Entrevista com Dean Wareham

Estava relendo algumas coisas que escrevi e decidi republicar algumas entrevistas.
Essa com o Dean Wareham (do Luna) é uma das mais bacanas que fiz até hoje pela importância do cara na história do rock independente mundial.
A entrevista foi feita em 2001, quando o Luna esteve em tour pelo Brasil.
As fotos que ilustram esse post eu fiz no show em Londrina.


Andye Iore – Na seção "O Que Dean está lendo e ouvindo" do site do Luna, há várias referências a cinema. Assim como nas canções do Luna. Por que a fascinação com cinema em sua vida?
Dean Wareham - O cinema está à nossa volta, impregnando nossa vida e permanecendo em nossa consciência. Eu sei que não sou o único interessado em cinema.

Você tem idéia de quanto o Galaxie 500 é importante no mundo do rock?
Tenho certeza que influenciamos várias pessoas a montarem bandas, o que pode ser algo bom ou ruim. Nós não precisamos reinventar a guitar music, mas tivemos sorte em descobrir nossa própria sonoridade de maneira especial.

Perguntei isso porque no Brasil, o G500 tem o mesmo status (até mais) que o Luna...
É legal saber isto.

Bandas como Stereolab, Luna, Yo La Tengo e Belle & Sebastian tem músicas no estilo bossa nova. Você conhece algo sobre este gênero musical brasileiro?
Me parece que está voltando a ser popular novamente nos Estados Unidos. Mas, provavelmente, é mais no Japão. Talvez, muitas bandas estão tocando bossa nova sem ter o que fazer. A minha bateria eletrônica tem uma opção de bossa nova que usamos em "4000 Days". De qualquer maneira, não sou um especialista, mas quem não gosta de João Gilberto e Antônio Carlos Jobim? Sou fã do álbum que o Sinatra fez com o Jobim. (N. R.: "Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim", disco com dez canções lançado em 1967, pela Reprise.)




Você fica chateado quando as pessoas comparam o Luna ao Velvet Underground ou isto te deixa orgulhoso?
Bom, não acho que isto seja correto, estou um pouco cheio disto. Mas, ao mesmo tempo, o Velvet Underground é uma das minhas bandas favoritas, é claro. Prefiro eles aos Beatles.

O fato de vocês terem tocado com o VU em 1993 foi como um sonho pra você?
Bem, naturalmente, você fica nervoso estando próximo às pessoas que você tem grande admiração. Mas, eles foram legais conosco.

A turnê brasileira terá nove shows... geralmente, as bandas internacionais não fazem tantos shows assim por aqui. Quais são as suas expectativas?
Nós vamos tocar as canções que estamos tocando em nossa turnê. Não tenho idéia do que vou encontrar aí.

No álbum mais recente, "Luna Live", vocês gravaram "4th of July" do G500. Os fãs brasileiros terão a sorte de ouvir alguma música do G500 na turnê brasileira?
Provavelmente, tocaremos esta música. Talvez, aprenderemos outra. Mas, geralmente, nos limitamos ao catálogo do Luna.

No Brasil, as gravadoras não contratam bandas que cantam em inglês. Qual a sua opinião sobre isso, uma vez que várias bandas de outros países fazem sucesso cantando em inglês e não em sua língua original?
Algumas bandas européias estão cantando em inglês. Mas, acho que é melhor cantar em sua própria língua... e, o português soa bonito para mim.


O Luna vem tendo problemas com gravadoras. Por que isto acontece uma vez que vocês gravam bons discos,tem um bom conceito na mídia e muitos fãs em todo o mundo?
Acho que é parte do mundo da música, que está mudando rapidamente nestes dias. Se você grava discos, terá problemas contratuais da mesma maneira.

Luna tem um site com material sobre a banda. O quanto a internet é importante para vocês?
Nós não fazemos muita coisa com a internet, mas tentamos fornecer um pouco de informação sobre o que estamos fazendo. Em breve, colocaremos alguns vídeos também.

Vocês já trabalharam com pessoas conceituadas e tem um círculo de amigos legais no mundo da música. Você acha que a sonoridade do Luna atrai coisas positivas?
O nosso relações públicas anterior, quando estávamos na Elektra, dizia que a música do Luna tem o poder de curar, mas não resolvemos seus problemas. Sei que os melhores momentos da minha vida foram ouvindo música. Felizmente, temos este efeito para as pessoas que gostam de nós.

Desde o G500, você grava covers. Como você escolhe as músicas que ganharão uma versão?
Na maior parte, escolhemos artistas que respeitamos. Com exceção do Guns’n’Roses. Não há um sistema exato para isso.

No álbum "Days of Our Nights" vocês gravaram uma cover "não séria" – "Sweet Child O’Mine". Por que você escolheu esta canção?
Gostamos desta música e ela foi gravada originalmente como lado B de um single. Ouvi boatos que o Guns’n’Roses não a escreveu, que eles compraram a música de uma pessoa.

Vocês estão no estúdio gravando o disco novo e você tem um pequeno estúdio na sua casa. Como você trabalha com a tecnologia?
Não sou um perito com as novas tecnologias e não sei como fazer música no meu computador. Mas, trabalhamos com pessoas que sabem essas coisas. Geralmente, fazemos discos da maneira antiga: sentando e gravando em fita analógica de 2 polegadas.

No novo disco será lançado no início de 2002. Você pode adiantar alguma coisa para nós?
Não acho que terá alguma cover neste disco. Embora, talvez no Brasil, solicitaremos a inclusão de bônus no cd. Não mudamos nosso som drasticamente, mas acho que teremos um disco melhor desta vez.


• Veja o Luna tocando "Bonnie and Clyde" ao vivo

Um comentário:

ESQUEMA ROCK LIVRE disse...

Pra mim o português soa bem também.
Luna, boa banda, uma pena que não pude assistir, estava gripado no dia do show em Londrina.