Mas o que fez do evento histórico não foram os shows e sim a
mobilização das próprias bandas que fizeram uma ocupação cultural no vão do
Restaurante Popular com seus próprios equipamentos e divulgação independente.
O resultado foi um evento cheio, com bons shows e público
animado. Por diversas vezes já abordei no Projeto Zombilly que as bandas não
precisam de prefeitura, bar ou divulgação em jornais. Numa das pesquisas que
fiz sobre bandas maringaenses constatei aproximadamente 40 bandas underground
de estilos variados. Somente parte desses músicos já seria suficiente para encher
um show e viabilizar um evento. E foi justamente o que aconteceu ontem. Várias
pessoas mobilizadas para fazer tudo acontecer sem nenhum problema.
E vale ressaltar que o line up tinha bandas uderground. Do
punk rock clássico, passando pelo hard core contemporâneo até o grind core. Até
o instrumental do Brian Oblivion & Seus Raios Catódicos que seria a banda
com sonoridade mais acessível no dia ainda causa alguma estranheza no público
não iniciado por não ter vocal. Mesmo com tantos eventos de surf music que já
fizemos na cidade.
E assim, sem nenhuma atração de sonoridade acessível ou
comercial, o evento cumpriu seu papel de mostrar as bandas, mobilizar um
público, conscientizar as pessoas em questões políticas, sociais, ideológicas e
contra preconceitos. E foi assim até o final, quando o local já tomado pela
escuridão, um grupo recolheu todo o lixo, deixando o espaço limpo.
EGO - Há pouco a secretária de Cultura de Maringá deu uma
entrevista de página inteira num jornal e sequer citou uma única letra sobre as
bandas de rock de Maringá. Foi um “blá blá blá” com uma ladainha sobre os
projetos culturais da prefeitura que ignora uma produção artística independente
que grava discos por conta própria, toca em outros estados levando o nome de
cidade.
Enquanto muitos dos artistas contemplados pela política
cultural local acabam sumindo logo que seus projetos são lançados ao custo de
milhares de reais dos contribuintes. Sem contar que tal política favorece o
chamado “artistas profissional” que vive de sugar os editais públicos e todos
os anos ocupa os espaços públicos que deveriam abrigar um volume maior de arte
alternativa e/ou independente. Que é a que realmente forma e informa o público.
APRENDENDO – O único aspecto negativo do evento de ontem foi
a organização ou bandas precisando chamar a atenção no microfone contra
violência no mosh. Algumas pessoas ainda não assimilaram que a sua diversão não
deve atrapalhar a de outras pessoas ao lado. E assim tinha gente que entrava no
meio pulando, esperneando, socando, chutando, empurrado, tipo uma perereca no
cio. Em tempos de internet e tecnologia vale uma pesquisada histórica sobre
mosh para não fazer um “papelão” ao agredir outras pessoas na situação. E mesmo
com Maringá já tendo recebido as principais bandas de hard core e punk do país,
a situação se repete.
Chega até a ser curioso – ou digno de vergonha alheia –
observar alguns jovens aventureiros na questão. Entram com tudo no mosh, batem
nas pessoas e ficam poucos segundos, saindo sorrindo como se tivessem passados
pela maior transgressão da história, tipo “nossa meu, eu entrei lá no meio...”.
Como um “Indiana Jones do Rock Malvado”. Não tem nada de engraçado nisso e isso
não faz parte da cultura punk e hard core. Embora seja comum, infelizmente,
hoje. Aproveita a pesquisa para parar de chamar stage dive de mosh.
Foto: Andye Iore
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