segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Fazendo o “faça você mesmo”

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Maringá teve ontem (31) um dos melhores eventos da história do rock underground na cidade. Tocaram sete bandas: Ataque de Tubarão, Comsequencia, Draw the Line, Desgraceria, Distanásia, Os Prolétas e Brian Oblivion & Seus Raios Catódicos. E ainda teve a participação do rapper Ivan Marinheiro. O motivo era a despedida da banda Ataque de Tubarão cujo dois membros do trio estão mudando de Maringá, o que inviabilizaria a manutenção do grupo depois de seis anos de existência e muito barulho.

Mas o que fez do evento histórico não foram os shows e sim a mobilização das próprias bandas que fizeram uma ocupação cultural no vão do Restaurante Popular com seus próprios equipamentos e divulgação independente.
O resultado foi um evento cheio, com bons shows e público animado. Por diversas vezes já abordei no Projeto Zombilly que as bandas não precisam de prefeitura, bar ou divulgação em jornais. Numa das pesquisas que fiz sobre bandas maringaenses constatei aproximadamente 40 bandas underground de estilos variados. Somente parte desses músicos já seria suficiente para encher um show e viabilizar um evento. E foi justamente o que aconteceu ontem. Várias pessoas mobilizadas para fazer tudo acontecer sem nenhum problema.
E vale ressaltar que o line up tinha bandas uderground. Do punk rock clássico, passando pelo hard core contemporâneo até o grind core. Até o instrumental do Brian Oblivion & Seus Raios Catódicos que seria a banda com sonoridade mais acessível no dia ainda causa alguma estranheza no público não iniciado por não ter vocal. Mesmo com tantos eventos de surf music que já fizemos na cidade.
E assim, sem nenhuma atração de sonoridade acessível ou comercial, o evento cumpriu seu papel de mostrar as bandas, mobilizar um público, conscientizar as pessoas em questões políticas, sociais, ideológicas e contra preconceitos. E foi assim até o final, quando o local já tomado pela escuridão, um grupo recolheu todo o lixo, deixando o espaço limpo.
EGO - Há pouco a secretária de Cultura de Maringá deu uma entrevista de página inteira num jornal e sequer citou uma única letra sobre as bandas de rock de Maringá. Foi um “blá blá blá” com uma ladainha sobre os projetos culturais da prefeitura que ignora uma produção artística independente que grava discos por conta própria, toca em outros estados levando o nome de cidade.
Enquanto muitos dos artistas contemplados pela política cultural local acabam sumindo logo que seus projetos são lançados ao custo de milhares de reais dos contribuintes. Sem contar que tal política favorece o chamado “artistas profissional” que vive de sugar os editais públicos e todos os anos ocupa os espaços públicos que deveriam abrigar um volume maior de arte alternativa e/ou independente. Que é a que realmente forma e informa o público.
APRENDENDO – O único aspecto negativo do evento de ontem foi a organização ou bandas precisando chamar a atenção no microfone contra violência no mosh. Algumas pessoas ainda não assimilaram que a sua diversão não deve atrapalhar a de outras pessoas ao lado. E assim tinha gente que entrava no meio pulando, esperneando, socando, chutando, empurrado, tipo uma perereca no cio. Em tempos de internet e tecnologia vale uma pesquisada histórica sobre mosh para não fazer um “papelão” ao agredir outras pessoas na situação. E mesmo com Maringá já tendo recebido as principais bandas de hard core e punk do país, a situação se repete.
Chega até a ser curioso – ou digno de vergonha alheia – observar alguns jovens aventureiros na questão. Entram com tudo no mosh, batem nas pessoas e ficam poucos segundos, saindo sorrindo como se tivessem passados pela maior transgressão da história, tipo “nossa meu, eu entrei lá no meio...”. Como um “Indiana Jones do Rock Malvado”. Não tem nada de engraçado nisso e isso não faz parte da cultura punk e hard core. Embora seja comum, infelizmente, hoje. Aproveita a pesquisa para parar de chamar stage dive de mosh.
Foto: Andye Iore

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