terça-feira, 8 de abril de 2008

Entrevista - Petter Baiestorf - Parte 1/2

Entrevista exclusiva com o cineasta independente Petter Baiestorf.
A entrevista foi dividida em duas partes e a segunda será publicada aqui em breve.

ZOMBILLY - Qual foi a sua primeira influencia nesse meio trash/horror... o que fez com que você começasse a gostar disso?
BAIESTORF: Acho que comecei mesmo foi como leitor das revistas da Editora Vecchi nos anos 70/80. Lembro que folheava elas antes mesmo de aprender a ler, isso com uns 4 ou 5 anos. Depois comecei a ver tudo que é filme. Um dos primeiros que tenho lembrança é “The Incredible Melting Man”, que vi muito novo. Pouco depois conheci os filmes do Ruggero Deodato e Lucio Fulci e aí comecei a me interessar por cinema, o que movia as coisas por trás de tudo. Isso antes dos 12 anos. Logo em seguida, com 13, 14 anos, descobri os filmes do Buñuel, Fellini e outros cineastas fantásticos e pensei: “É isso que quero fazer!”. Então, lá por 1990, vi um filme do Ed Wood e cheguei a conclusão que dava prá fazer filmes usando câmeras VHS mesmo e comecei a fazer, não parando nunca mais.

Como você chegou ao atual formato de gore, pornografia e critica social ?
Olha só, eu não curto ficar só em um só estilo de narrativa. Então eu quero experimentar novas formas (de suporte à narrativa). Meu ponto de partida sempre é o trash-movie por não ter grana prá investir e porque é um gênero que defendo por achar que tem seu valor. Mas um filme de autor e um filme trash possuem muitas afinidades, tenho feitos várias experiências neste sentido de misturar um estilo autoral com as técnicas do trash.
Quem acompanha minhas obras sabe que estou sempre testando novos formatos para contar histórias debochadas. Não é exatamente o caso dos dois filmes que serão exibidos em Maringá. “Zombio” & “Blerghhh!!!” são mais trash para se divertir, ótimos para este formato de buteco com bandas mais filmes. E com cervejada eles ficam bem hilários. Pornografia não convencional sempre me interessou, mas nada dessas merdas enrustidas tipo alt porn. Nunca vejo essas coisas, sei que sou influência para alguns produtores deste estilo enrustido de pornografia, mas eu não curto. Eu gosto de pornografia suja, depravada, doentia, demente, meus filmes pornôs não são prá punheteiro não, são anti-erotismo, são carregadas de críticas sociais, religiosas e anti-militares. Eu gosto de filmes que vão direto ao ponto. “Arrombada”, meu último filme, é um sexploitation que critica a impunidade no Brasil, sempre tento trazer algum assunto sério, que trato de forma completamente debochada, para a discussão que se origina após as sessões dos filmes. É meu estilo pessoal, sempre busco o aperfeiçoamento dele mas sem ficar preso à isso. Tenho muitos filmes que são porradas no estômago sem usar pornografia nem gore. Mais de 60% da minha produção é de filmes experimentais-surrealistas alineares. Mas minha produção é intensa, tenho mais de 130 filmes em que já me meti, a maioria destes escritos e dirigidos por mim, só que o gore e a pornografia são mais pops.

Sua carreira é dividida em fases ou você vai fazendo filmes aleatoriamente, conforme o que for acontecendo na sua cabeça?
Não, tenho minhas fases, comecei sendo trasheiro, depois fiz uns filmes experimentais bem radicais em forma e conteúdo, depois fiz pornografia explícita bizarra, aí fiz um monte de filmes experimentais para festivais de cinema e desde 2005 tenho buscado o aprimoramento da metalinguagem dentro dos meus filmes. Na verdade sigo um caminho, acho que isso é explicado de alguma forma no meu livro “Manifesto Canibal” (editora Achiamé, 2004).

Por que não existe um mercado de trash movies no Brasil?
Não existe, mas está surgindo. Eu poderia teorizar várias linhas sobre o porque de não existir, mas acho que não seja interessante falar sobre isso. Por que ?... Porque nos últimos anos tem surgido toda uma nova geração de produtores independentes que tem se inspirado em minhas experiências de mercado, já fali umas duas vezes, mas continuo produzindo com grana só minha, distribuindo de forma independente, ganhando grana com os novos trabalhos, relançando em DVD todo meu catálogo dos anos 90, fechando lançamentos na Europa e viajando por várias regiões do Brasil divulgando essa forma de arte tosca que são os filmes trash caseiros...

(continua...)

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