Quando me convidou a participar do programa “Zombilly no rádio”, Andye Iore recomendou que eu selecionasse algumas canções de rock e as comentasse. Aproveitei para divulgar idéias que desenvolvi em uma pesquisa de pós-graduação, que se relaciona com a década de 1960, época vivida sob o signo da revolução e da rebeldia. A música popular manteve uma relação muito íntima com as sensibilidades políticas do período, consideradas todas as suas variações. O rock, já emancipado do sobrenome “and roll”, é filho desse período.
A minha tese é a seguinte: Embora haja uma associação entre rock e protesto social, na arena internacional, as mais representativas expressões veiculadas por esse gênero musical são aquelas que não falam de política diretamente. A década de 1960 é conhecida como a época da “grande recusa”. Recusa do quê? Nos países capitalistas mais desenvolvidos, a juventude recusava o modus vivendi de uma sociedade em que tudo é transformado em mercadoria. Em um manifesto de uma organização política alternativa, lê-se: “Opomo-nos à despersonalização que reduz os seres humanos à condição de coisa. Solidão, alheamento e isolamento descrevem a vasta distância que se verifica hoje de homem para homem. Essas tendências dominantes não podem ser superadas por melhor administração pessoal, nem por mecanismos aperfeiçoados, mas somente quando um amor pelo homem superar o culto idólatra do homem às coisas”.
Em um universo de sete canções, fiz uma seleção representativa dos principais ícones do rock internacional: Bob Dylan, The Beatles, The Rolling Stones e The Who. A primeira canção foi “Times they are a changing”, em que Dylan anunciava que os tempos estavam mudando. Na segunda, “Mr. Tambourine Man”, o grande poeta já propunha um escapismo da sociedade alienante em que viviam e pedia: “Let me forget about today until tomorrow”. Dos Rolling Stones, como esperado, veiculei a canção em que eles diziam que não conseguiam ter “Satisfaction”. Dos Beatles veiculei três canções. Na primeira, “Strawberry Fields Forever”, eles nos convidam para ir a um lugar onde nada é real e onde não há nada que possa nos preocupar. A segunda é “A day in the life”. Ao narrar um dia na vida com tamanho desencanto e força poética, já se disse que essa canção está para o rock como “Waste Land”, de T.S Eliot, está para a literatura culta. Ainda incluí “Revolution”, a canção em que os Beatles recusam a violência e propagam a revolução das mentes. A lista incluiu um tema do The Who, “We’re not gonna take it”, o desfecho da opera-rock “Tommy”, aquela que fala do menino que cresceu sem enxergar, sem sentir, sem ouvir, emblema, na minha opinião, da alienação provocada pela sociedade.
Em linguagem figurada e sem promover nenhum panfleto político, essas canções criticaram a sociedade de forma dura, sem perder a beleza poética jamais.
(Artigo de Reginaldo Dias publicado no jornal O Diário no dia 24 de junho de 2009. Dias é professor, historiador, escritor e já foi chefe de gabinete da Prefeitura de Maringá)
Email de Reginaldo Dias: diasreginaldo@hotmail.com
O programa com ele vai ao ar na UEM FM 106,9 no dia 4 de julho.
terça-feira, 30 de junho de 2009
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Um comentário:
Fantástico, adoro esse tipo de leitura, é a sociedade enlatada que vivemos hj. É o tipo de coisa que eu tb costumo criticar em algumas das minhas canções!
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